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Como Olhar o Doente [Companhia Das Letras]



"Em 'O Nascimento da Clínica , [...] Michel Foucault (1926-1984) analisa um período crucial da história da medicina: o fim do século XVIII e o começo do XIX. Ocorreu então uma reorganização da maneira de olhar o doente [...]. Até então, diz Foucault , os médicos perguntavam ao doente o que estava errado com ele ; agora , passam a perguntar onde dói. O diagnóstico é feito com base em um sistema classificatório de doenças [...] A doença tem a sua sede em um órgão , e tem a seu lugar em uma classe. A intervenção médica passa a ter normas . Antes , quando o doente recuperava seu vigor, sua disposição , estava curado. Agora, padrões de normalidade , numericamente expressos, definirão o objetivo do tratamento. Essa transformação , mostra Foucault, não é apenas científica , ela é política e social. [...] Os médicos adquirirão uma consciência política: a luta contra a doença deve começar com uma luta contra o mau governo , e os doutores , por seu intenso contato com as pessoas , estão em posição ideal para tanto. Surge a autoridade médica, que pode tomar decisões afetando instituições , bairros, cidades. E essa intervenção já não se restringe ao corpo enfermo , mas também ao ar, à água , às construções , aos sistemas de esgoto. O hospital que, antes do século XVIII era basicamente uma instituição de caridade a cargo de religiosos, agora, [...] torna-se uma instrumento de medicalização coletiva e leiga [...]. Começam a surgir os sistemas de admiração médica , com registro de dados e sistemas estatísticos, Tudo isso significa poder, palavra que para Foucault é fundamental. [...] A medicina atua nas necessidade mais concreta do ser humano . Quando a saúde substitui a salvação da alma, conclui da alma , conclui Foucault, o poder dos doutores cresce exponencialmente."

SCLIAR, Moacyr. A paixão transformada. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 120-121


O Conceito de Habitus



Habitus é outro conceito utilizado por Norbert Elias. É muito interessante porque , além de esclarecedor, estabelece uma ligação entre o pensamento de Elias e o do francês Pierre Bourdieu (1930-2002). Para Elias , habitus é algo como uma segunda natureza , ou melhor , um saber social incorporado durante nossa vida em sociedade. Ele afirma que o destino de uma nação , ao longo dos séculos , fica sedimentado no habitus de seus membros. É ago que muda constantemente , mas não rapidamente , e , por isso, há equilíbrio entre continuidade e mudança. A preocupação de Bourdieu, ao retomar o conceito de Habitus, era a mesma de Elias : ligar teoricamente o indivíduo e sociedade. Não há diferença entre o que Elias e Bourdieu pensam em termos gerais , apenas na maneira de propor a questão. Para Bourdieu , o habitus se apresenta como social e individual ao mesmo tempo, e refere-se tanto a um grupo quanto a uma classe e, obrigatoriamente , também ao indivíduo. A questão fundamental para ele é mostrar a articulação entre as condições de existência do indivíduo e suas formas de ação e percepção, dentro ou fora dos grupos. Dessa maneira , seu conceito de habitus é o que articula práticas cotidianas - a vida concreta dos indivíduos - com as condições de classe de determinada sociedade , ou seja, a conduta dos indivíduos e as estruturas mais amplas. Fundam-se as condições objetivas com as subjetivas. Para Bourdieu , o habitus é estruturado por meio das instituições de socialização dos agentes (a família e a escola , principalmente) , e é aí que a ênfase na análise do habitus deve ser colocada , pois são essas primeiras categorias e valores que orientam a prática futura dos indivíduos. Esse seria o habitus primário , por isso mais duradouro- mas não congelado no tempo. À medida que se relaciona com pessoas de outros universos de vida , o indivíduo desenvolve um habitus secundário não contrário ao anterior , mas indissociável daquele. Assim vai construindo um habitus individual conforme agrega experiências continuamente. Isso não significa que será uma pessoa radicalmente diferente da que era antes, pois se modifica sem perder suas marcas de origem, de seu grupo familiar ou da classe na qual nasceu. Os conceitos e valores dos indivíduos (sua subjetividade) , segundo Bourdieu, têm uma relação muito intensa com o lugar que ocupam na sociedade. Não há igualdade de posições , pois se vive numa sociedade desigual. Por exemplo, no Brasil, teoricamente, todos podem ingressar na universidade, mas , de fato, as chances de que isso aconteça são remotas , porque há condições objetivas e subjetivas que criam um impedimento: a falta de vagas , as deficiências do ensino básico , um vestibular que elimina a maioria ou um pensamento como este : "Não adianta nem tentar, pois não vou conseguir", Ou este : "Para que ingressar em um curso superior se depois não terei possibilidade de exercer a profissão". Como se pode perceber , a Sociologia oferece várias possibilidades teóricas para a análise da relação entre indivíduo e sociedade. Esse é apenas um exemplo de como os sociólogos trabalham. Muitos autores analisam as mesmas questões e propõem alternativas a fim de que se possa escolher a perspectiva mais apropriada para examinar a realidade em que se vive e biscar respostas para as perguntas que se fazem. A diversidade de análises é um dos elementos essenciais do pensamento sociológico.


A Sociedade Disciplinar E A Sociedade de Controle



Até aqui vimos análises sobre o poder e a política que privilegiam suas relações com o Estado. Mas existem pensadores que analisam a questão do poder e da política de modo diferente: não dão primazia às relações com o Estado, mas a elementos que estão presentes em todos os momentos de nossa vida. Entre eles, destacamos os franceses Michel Foucault (1926-1984) e Gilles Deleuze (1925-1995). Foucault se propôs analisar a sociedade com base na disciplina no cotidiano. Para ele , todas as instituições procuram disciplinar os indivíduos desde que nascem. Assim acontece na família , na escola , nos quartéis , nos hospitais , nas prisões , etc., pois o fundamental é distribuir , vigiar e adestrar os indivíduos em espaços determinados. Diz ele que, além dos aspectos institucionais ou até jurídicos dessas instituições, esse poder desenvolve-se por meio de gestos, atitudes e saberes. É o que chama de "arte de governar" , entendida como a racionalidade política que determina a forma de gestão das condutas dos indivíduos de uma sociedade. Nesse sentido , em seu livro "Microfísica do Poder", ele afirma : " nada é político, tudo é politizável, tudo pode tornar-se político". Seguindo as pistas de Foucault, Deleuze declara que vivemos ainda numa sociedade disciplinar , mas já estamos percebendo a emergência de uma sociedade de controle. A sociedade disciplinar é a que conhecemos desde o século XVIII. Ela procura organizar grandes meios de confinamento : a família , a escola , a fábrica , o exército e , em alguns casos , o hospital e a prisão. O indivíduo passa de um espaço fechado para outro e não para de recomeçar , pois em cada instituição deve aprender alguma coisa, principalmente a disciplina específica do lugar. Na sociedade disciplinar , a fábrica , por exemplo, é um espaço fixo e confinado onde se produzem bens. A fábrica concebe os indivíduos como um só corpo , com a dupla vantagem de facilitar a vigilância por parte dos patrões , que controlam cada elemento na massa, e de facilitar a tarefa dos sindicatos , que mobilizam uma massa de resistência. O que nos identifica , na escola no exército , no hospital , na prisão ou nos bancos , é a assinatura e o número na carteira de identidade e na carteira profissional, além de diversos outros documentos. A sociedade de controle está aparecendo lentamente , e alguns de seus indícios já são perceptíveis . Ela é como uma "prisão ao ar livre", na expressão do filósofo e sociólogo alemão Theodor Adorno . Os métodos de controle utilizados são de curto prazo e de rotação rápida , mas contínuos e eliminados. São permanentes e de comunicação instantânea . Como não têm um espaço definido , podem ser exercidos em qualquer lugar. Exemplos de modos de controlar as pessoas constantemente são as avaliações permanentes e a formação continuada. Outra forma de controle contínuo são os "conselhos" a respeito da saúde que estão presentes em todas as publicações , na televisão e na internet: " Não coma isso porque pode engordar ou aumentar o nível de colesterol ruim. Faça exercícios pela manhã ou pela tarde , desta ou daquela maneira , para ter uma vida mais saudável. Tome tal remédio para isso, ms não tome para aquilo". Os controles nos alcançam em todos os momentos e lugares. Não há possibilidade de fuga. Se na sociedade disciplinar o elemento central de produção é a fabricação , na de controle é a empresa , algo mais fluido. Se a fábrica já conhecia o sistema de prêmios , a empresa o aperfeiçoou como uma modulação para cada salário , instaurando um estado de eterna instabilidade e desafios. Se a linha de produção é o coração da fábrica , o serviço de vendas é a alma da empresa. O marketing é agora o instrumento de controle social por excelência - possui natureza de curto prazo e rotação rápida , mas também contínuo e ilimitado , ao passo que a disciplina é de longa duração, infinita e descontínua. O lugar do marketing em nossa sociedade é evidente , uma vez que somos todos vistos como consumidores. O convencimento é ao mesmo tampo externo (pela recepção da mensagem) e interno (pela própria natureza do convencimento). Ao ser interiorizada , a coerção afinal aparece como um imperativo. Se tudo pode ser comprado e vendido , por que não as consciências , os votos e outras coisas mais? A corrupção em todos os níveis ganhou nova potência. O que nos identifica cada vez mais é a senha. Cada um de nós é apenas um número , parte de um banco de dados de amostragem. A quantidade de senhas de que necessitamos para nos relacionar virtualmente com as pessoas ou com instituições é enorme e , sem elas , ficamos isolados. Se na sociedade disciplinar há sempre um indivíduo vigiando os outros em várias direções num lugar confinado, na sociedade de controle todos olham para o mesmo lugar. A televisão é um bom exemplo disso, pois milhares de pessoas estão sempre diante do aparelho. Na final do campeonato mundial de futebol em 2006, cerca de um bilhão e meio de pessoas estavam conectadas ao jogo.


Embriogênese Humana



A gastrulação nos mamíferos segue outros caminhos diferentes daquele que observamos na gastrulação do anfioxo. A blástula ou blastocisto apresenta uma camada envoltora de células , aqui chamada de trofoblasto , sustentando dos pólos um amontoado de blastômeros , que é o embrioblasto , o qual faz proeminência para a cavidade central ou blastocele. O trofoblasto deverá originar a placenta . O embrião e demais anexos embrionários surgirão a partir do embrioblasto. Na espécie humana , a mórula desce pela trompa de Falópio e vai absorvendo líquidos. Dessa maneira , transforma-se progressivamente em blastocisto, Esta chega à cavidade uterina e encontra o endométrio aumentado de espessura por ação estradiol e da progesterona produzidos pelos ovários . O trofoblasto , então, segrega e elimina enzimas proteolíticas que digerem uma pequena porção do endométrio , originando uma minúscula cavidade, onde penetra todo o blastocisto. Esse fenômeno é conhecido como nidação do ovo (do espanhol "nido", 'ninho'). Esse fato ocorre entre quatro e cinco dias após a fecundação . Em seguida , o endométrio se cicatriza por cima do blastocisto , deixando-o "incrustado" ou "embutido" na sua estrutura . Por proliferação , as células do trofoblasto vão formando cordões celulares que se infiltram pelo endométrio. Surgem , assim , as vilosidades criais, que posteriormente , definirão a placenta. Nas vilosidades coriais se distinguem duas camadas : o sinciciotrofoblasto , uma massa de citoplasma contínuo dotadas de membrana envoltora e de contornos visíveis. Enquanto isso, no embrioblasto as células se organizam em duas camadas - o ectoderma , mais para fora , e o endoderma , mais internamente. Estas duas camadas justapostas têm um contorno têm um contorno discoidal e constituem o disco embrionário , primeira etapa da formação do embrião. Esse disco fica separando duas cavidades, a vesícula amniótica e a vesícula vitelina. vamos dar o devido destaque ao seguinte: a gástrula, nos mamíferos , não se forma por embolia , isto é , invaginação de um pólo de blástula, como acontece com o anfioxo e grande número de animais, Ela se forma por epibolia , ou seja, proliferação mais rápida das células do ectoderma em relação ás células do endoderma , obrigando o disco embrionário a se recurvar e tomar a forma de um balão. Além disso, ela se forma dentro do blastocisto e não a partir dele. Vimos como se forma o mesoderma em animais inferiores. Mas esse processo é diferente nos vertebrados. Considere a gástrula como um balão- charuto . Naturalmente , a boca desse balão - o blastóporo - se localiza , mais ou menos , na região mediana da face inferior dessa figura. Agora , imagine que, no dorso desse balão que é constituído ainda de duas camadas : ectoderma e endoderma ), a camada mais externa faça um sulco longitudinal próximo à região posterior. Esse sulco - sulco embrionário primitivo -, que surge no dorso da gástrula didérmica, aprofunda-se numa fenda cujos bordos mergulham e se insinuam entre o ectoderma e o endoderma. As células ectodérmicas formam, então, bolsas laterais, que proliferam entre dois folhetos iniciais e vão formando progressivamente o mesoderma. Logo, o mesoderma , nos mamíferos , tem origem ectodérmica e não endodérmica , como vimos antes, na embriogênese do anfioxo .Embora os processos de formação da gástrula tridérmica sejam diferentes entre animais inferiores e animais superiores , depois e formada ela tem uma aparência inicial comum para ambos os tipos de organismos. 

Confrontos e Parcerias



Os movimentos sociais são sempre de confronto político. Na maioria dos casos eles têm uma relação com o  Estado, seja de oposição, seja de parceria , de acordo com seus interesses e necessidades. Observam-se várias formas de atuação dos movimentos sociais:
-Contra ações do poder público que sejam consideradas lesivas aos interesses da população ou de um setor dela, como determinada política econômica ou uma legislação que prejudique os trabalhadores; -Para pressionar o poder público a resolver problemas relacionados à segurança , à educação , à saúde , etc. (um exemplo são as ações que exigem do Estado medidas contra a exploração sexual e o trabalho infantil);
-em parceria com o poder público para fazer frente às ações de outros grupos ou empresas privadas (é o caso dos movimentos de proteção ambiental);

-Para resolver problemas da comunidade , independentemente do poder público , muitas vezes tomando iniciativas que caberiam  ao Estado (por exemplo, as várias ações realizadas por Organizações Não-Governamentais - ONGs - e associações de moradores de bairros). 

Existem também movimentos cujo objetivo é desenvolver ações que favoreçam a mudança da sociedade com base no princípio fundamental do reconhecimento do outro , do diferente. Por meio desses movimentos , procuram-se disseminar visões de mundo, ideias e valores que proporcionem a diminuição dos preconceitos e discriminações que prejudicam as relações sociais. Exemplos são os movimentos étnico-raciais , gay, feminista e pela paz e contra a violência. Conforme o sociólogo alemão Axel Honneth , as lutas sociais vão além da defesa de interesses e necessidades, tendo como alvo também o reconhecimento individual e social. Quando um indivíduo se engaja num movimento social, procura fazer que suas experiências com os sentimentos de desrespeito, vergonha e injustiça inspirem outros indivíduos , de modo que sua luta se transforme numa ação coletiva, de reconhecimento pessoal e social. Em seu livro "Luta por Reconhecimento", Honneth afirma que "uma luta só pode ser caracterizada de social na medida em que seus objetivo se deixam generalizar para além dos horizontes das intenções individuais , chegando a um ponto em que eles podem se tornar a base de um movimento coletivo".


A PEA E A Distribuição de Renda no Brasil



A PEA no Brasil distribui-se de maneira bastante irregular. O gráfico demonstra que uma parcela significativa da PEA (17,4%) trabalha em atividades agrícolas o que retrata o atraso e parte da agricultura brasileira. Embora esse número venha diminuindo graças à modernização e à mecanização agrícola em algumas localidades , nas regiões mais pobres do país a agricultura é praticada de forma tradicional e ocupa muita a mão de obra. O setor industrial brasileiro, incluindo a construção civil , absorve 22,6% da PEA, valor comparável ao de países desenvolvidos. A partir da abertura econômica que se iniciou na década de 1990 houve grande modernização do parque industrial brasileiro e algumas empresas dos setores petroquímicos , extrativo mineral, siderúrgico , máquinas e equipamentos , construção civil , aeronáutico , entre outros , ganharam projeção internacional. Hoje no Brasil, possui multinacionais como a Petrobrás , a Vale , a Gerdau , a WEG , a Odebrecht e a Embraer, atuando respectivamente nesses setores. Já as atividades terciárias apresentam mais problemas , por englobar os maiores níveis de subemprego. No Brasil , 59,7% da PEA exerce atividades terciárias. No entanto, na maioria das vezes , essas pessoas estão apenas em busca de sobrevivência, de complementação da renda familiar , ou tentando "driblar" o desemprego em atividades informais , como a de camelô, guardador de veículos nas ruas ou vendedor ambulante , entre outros. Mesmo no setor formal de serviços (como escolas , hospitais , repartições públicas , transportes etc.), as condições de trabalho e nível de renda são muito contrastantes: Há instituições avançadas em termos tecnológicos e administrativos ao lado de outras bastante atrasadas. Por exemplo, ao compararmos o ensino oferecido nas escolas , seja pública ou privada , de qualquer nível , percebemos grandes diferenças em termos de qualidade. Quanto à composição da PEA por gênero , nota-se certa desproporção em 2008: 42,4% dos trabalhadores eram do sexo feminino. Nos países desenvolvidos a participação é mais igualitária ,com índices próximos a 50%¨. O aumento da participação feminina na PEA ganhou grande impulso com os movimentos feministas das décadas de 1970 e 1980 , que passaram a reivindicar igualdade e gênero no mercado de trabalho, nas atividades políticas e demais esferas da vida social. Além disso , a perda de poder aquisitivo dos salários em geral fez com que as mulheres cada vez mais entrassem no mercado de trabalho para complementar a renda familiar. As mulheres, muitas vezes , sujeitam-se a salários menores que os dos homens, mesmo quando exercem função idêntica ,como o mesmo nível de qualificação e na mesma empresa. Embora ainda seja minoritária , isso tem feito com que parte dos empresários prefira a mão de obra feminina. Observe que o número de mulheres no mercado de trabalho é maior somente na faixa de até um salário mínimo e dos que não têm rendimento ; nas demais faixas os homens predominam. Quanto a distribuição de renda, o Brasil apresenta um dos piores índices do mundo. As tabelas já mostraram que a participação dos mais pobres na renda nacional é muito pequena e a dos mais ricos é muito expressiva. Esse mecanismo de concentração de renda, com resultados perversos para a maioria da população , foi construído principalmente no processo inflacionário de preços. Como vimos, os reajustes da inflação nunca foram totalmente repassados aos salários. Além disso, no sistema tributário brasileiro a carga de impostos indiretos (como ICMS, IPI e ISS) , que não distinguem faixa de renda, chega a 50% da arrecadação. Naquele período , sucessivos governos agravaram o processo de concentração de renda ao aplicar seus recursos em benefício de setores ou atividades privadas , em detrimento dos investimentos em educação , saúde , transporte coletivo , habitação , saneamento e outros serviços públicos. Entretanto, como podemos observar , embora a participação dos mais pobres na renda nacional ainda seja muito baixa , o índice vem apresentando lenta melhora, Com o Plano Real e os programas assistenciais, os mais pobres vêm lentamente aumentando sua participação na renda nacional.


O Conceito de Configuração



De acordo com o sociólogo alemão Nobert Elias (1897-1990) , é comum distanciarmos indivíduo e sociedade quando falamos dessa relação, pois parece que julgamos impossível haver , ao mesmo tempo, bem estar e felicidade individual e uma sociedade livre de conflitos. De um lado está o pensamento de que as instituições - família , escola e Estado - devem estar a serviço da felicidade e do bem-estar de todos ; de outro , a ideia da unidade social acima da vida individual. As distinções entre indivíduo e sociedade levam a pensar que se trata de duas coisas separadas, como mesas e cadeiras, tachos e panelas. Ora, é somente nas relações e por meio delas que "os indivíduos podem possuir características humanas , como falar , pensar e amar" , como diz Elias em seu livro "A Sociedade dos Indivíduos" . E poderíamos complementar declarando que só é possível trabalhar , estudar e divertir-se em uma sociedade que tenha história , cultura e educação , e não isoladamente. Para explicar melhor o que afirma e superar a dicotomia entre indivíduo e sociedade, Elias criou o conceito de configuração (ou figuração). É um ideia que nos ajuda a pensar nessa relação de forma dinâmica , como acontece na realidade. Tomemos um exemplo : se quatro pessoas se sentam em volta da mesa para jogar baralho , formam uma configuração, pois o jogo é uma unidade que não pode ser vista sem os participantes e sem as regras. Sozinho, nenhum deles consegue jogar; juntos, cada um tem sua própria estratégia para seguir as regras e vencer. Vamos citar um exemplo mais brasileiro. Em um jogo de futebol, temos outra configuração , ou seja , há um conjunto de "eus" , de "eles" , de "nós". Um time de futebol é composto de vários "eus"- os jogadores - , que têm um objetivo único ao disputar com os do outro time. Há também as regras que devem ser marcar as possíveis infrações. Além disso, há a torcida , que também faz parte do jogo e congrega vários outros indivíduos com interesses diferentes , mas que , nessa configuração, têm um objetivo  único : torcer para que seu time vença. Assim, há um fluxo contínuo durante o jogo , que só pode ser entendido nesse contexto , nessa configuração. Essa relação acontece entre os jogadores , entre eles e a torcida , entre eles e o técnico , entre os torcedores , e entre todos e as regras, os juízes , os bandeirinhas , o técnicos e os gandulas. Fora desse contexto , não há jogo de futebol , apenas pessoas , que viverão outra configuração , em outros momentos. No grupo social é assim : não há separação entre indivíduo e sociedade. Tudo deve ser entendido de acordo com o contexto; caso contrário , perdem-se a dinâmica da realidade e o pode de entendimento. O conceito de configuração pode ser aplicado a pequenos grupos ou a sociedades inteiras , constituídas de pessoas que se relacionam . Esse conceito chama a atenção para a interdependência entre as pessoas. Por isso, Elias utiliza a expressão sociedade dos indivíduos, realçando a unidade , e  não a divisão.


Distribuição Cromossômica do Sexo



A teoria cromossômica do sexo se baseia no fato de que os indivíduos apresentam em suas células somáticas um certo número de cromossomos que não interferem no sexo- os autossomos- e um par de cromossomos que implicam diretamente no sexo- os heterocromossomos, idiocromossomos ou cromossomos sexuais. No par de heterocromossomos há sempre uma certa diferença quanto ao tamanho e aspecto entre os dois homólogos nos indivíduos de um dos sexos. Essa diversidade na distribuição dos heterocromossomos entre macho e fêmea tem mostrado algumas diferenças conforme a espécie estudada. Assim, mostraremos os tipos mais comuns  de distribuição cromossômica do sexo:
-Tipo Drosófila ou Lygaeus

Foi observado primeiramente em drosófilas , mas também é visto na espécie humana e num grande número de outras espécies. As fêmeas têm dois heterocromossomos iguais , do tipo X (Têm cariótipo 44A + XX), e os machos têm um cromossomo X e um Y (têm cariótipo 44A + XY). Assim , todos os gametas das fêmeas são iguais , portando um cromossomo X. Por essa razão, elas são consideradas homogaméticas. Os machos , ao contrário, produzem espermatozoides com cromossomo X e espermatozoides com cromossomo Y. Eles são, portanto , heterogaméticos. O sexo dos descendentes é determinado no momento da fecundação, dependendo naturalmente do espermatozoide que fecunda o óvulo. Tipo Abraxas - Foi identificado pela primeira vez em lepidópteros (borboletas) do gênero Abraxas. Mas tem sido também encontrado em outros lepidópteros, em hemípteros (percevejos) e na maioria das aves. Nesse tipo , a fêmea é heterogamética e representada por ZW (corresponde a XY) ; o macho é homogamético ZZ ( corresponde a XX).

 Tipo Protenor - É observado em coleópteros (besouros) , entre os quais foi encontrado primeiramente no gênero Protenor . Mas tem sido visto em outros insetos também. A fêmea é do tipo XX e o macho é monossômico quanto ao sexo, isto é , embora tenha os autossomos aos pares , só revela um único heterocromossomo , que é também do tipo X. Ele tem o cariótipo 2A + X, onde 2A = 2n autossomos. Ao formar gametas , ele origina gametas que contêm um autossomo de cada par e um cromossomo x , bem como gametas que só têm os autossomos , sem qualquer heterocromossomo. O macho é , então, heterogamético. E o sexo do descendente depende do tipo de espermatozoide que fecunda o óvulo.