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"O Haiti Não É Aqui"



Algumas décadas após as revoltas coloniais do final do século XVIII, Joaquim Nabuco , um dos membros mais destacados da elite brasileira , afirmava : "O problema das revoluções é que sem os revolucionários não é possível fazê-las e com eles não é possível governar". Ao final do século XIX, um representante da nobreza italiana produzia uma sentença , evidentemente com relação à Itália, mas comparável em astúcia: "É preciso mudar para que as coisas permaneçam do mesmo modo". Pode-se dizer que a elite branca, proprietária de terras e de escravos , possuía um traço característico: extraordinária capacidade de se manter no poder, efetuar algumas  mudanças e afastar os grupos sociais subalternos do processo político. Talvez esse aprendizado tenha se iniciado exatamente ao final do século XVIII. A revolta dos Alfaiates despertou na elite a preocupação com a participação do povo "ignorante e rude" da sociedade colonial. Afinal de contas , para essa elite , o poder e a política eram privilégios fundamentais para distingui-los dos demais. O risco de se repetirem no Brasil os acontecimentos do Haiti também tornou os colonos poderosos mais precavidos. Reformas seriam sempre preferíveis e revoluções. Romper os laços com a Metrópole implicava riscos de uma subordinação à Coroa restringia os lucros dos negócios coloniais. Mas garantia a preservação das estruturas sociais que favorecia a elite tropical. Por outro lado, para Portugal tornara-se a vital a manutenção de suas possessões na América. Com a economia atrelada aos interesses ingleses, a elite portuguesa conseguia respirar , graças aos rentáveis negócios coloniais e ao tráfico de escravos. Nesse contexto, acordos entre as elites dos dois lados do Atlântico não eram impossíveis. Afinal, tratava-se de garantir os privilégios sociais e políticos contra os grupos subalternos das colônias e da Metrópole.